Na RMF, de cada quatro trabalhadores desempregados, três são negros, o equivalente a 76,2%
13 de Novembro de 2012 - Embora o cenário do mercado de trabalho na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) tenha evoluído entre 2009 e 2011, com a redução da taxa de desemprego total, de 11,4% para 8,9% da População Economicamente Ativa (PEA) alicerçada no crescimento econômico e na ampliação da oferta de postos de trabalho, a desigualdade entre trabalhadores negros e brancos ainda persiste, mesmo com a redução da disparidade. É o que aponta o Estudo Especial População Negra desenvolvido com base na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) realizada mensalmente em Fortaleza pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) em parceria com o Departamento Intersindical e Estudos Socioeconômicos e Estatísticos (Dieese). Conforme a edição 2012 do levantamento, apresentado ontem, apesar de o desemprego ter reduzido para toda a população, os negros ainda possuem menor inserção no mercado de trabalho do que o restante dos habitantes. De cada quatro trabalhadores desempregados na RMF, três são negros, correspondendo a 76,2%.
Mulheres sofrem mais
Em 2011 enquanto a taxa de desemprego total entre os negros ficou em 9% da PEA, entre os não negros o percentual foi 8,5%. O estudo revela ainda que o desemprego atinge mais fortemente as mulheres negras, que no mesmo ano amargaram taxa de 11%. As mulheres não-negras vêm logo depois com taxa de 9,9%, seguidas dos homens negros (7,4%) e não-negros (7,1%).
Construção inclui
Considerando os setores de atividade, a construção civil foi o segmento que mais contribuiu com a inserção de trabalhadores negros na RMF. Em 2011, enquanto de cada 100 trabalhadores negros, 8,3% participaram das ocupações do setor, entre os não negros o percentual de ocupados foi de apenas 5,2%.
Na indústria os negros também tiveram maior participação (19,2%) em temos relativos na comparação com os não negros (17,8%). O mesmo ocorreu com o emprego doméstico, no qual a participação dos negros representou 8,5% contra 5,3% dos não negros. No ano passado a participação dos negros só foi menor em relação aos não negros nos segmentos de comércio e serviços. No comércio a proporção foi de 19,2% (negros) e 20,2% (não negros). Já nos serviços os negros participaram de 43,3%, enquanto o restante dos trabalhadores com 50,3%.
Postos mais precários
Para Ediran Teixeira, coordenador da PED no Dieese, as oportunidade de trabalho para os negros estão ligadas a postos mais precários com salários inferiores. "É verdade que os negros estão se inserindo mais no mercado, reduzindo suas jornadas e ampliando a renda, mas a diferença em relação ao branco ainda persiste. Até porque eles se inserem com mais ênfase em setores que tradicionalmente possuem maiores jornadas como a construção civil". O crescimento do emprego com carteira assinada também contribuiu para a redução das desigualdades sociais no mercado de trabalho da RMF.
Em 2009 o rendimento do trabalhador negro era 29,3% inferior ao valor percebido pelo não negro. Em 2011 a diferença não se dissipou, mas caiu para 24,9%. Significa que, em espécie, a cada R$ 100,00 pago a um trabalhador negro são pagos R$ 124,90 a um trabalhador não negro na mesma função.
Jornada
Em relação a jornada de trabalho, a média entre os não negros é de 43 horas semanais. Para os não negros é de apenas uma hora a menos, ou 42 horas semanais em média.
Os jovens entre 15 e 24 anos, que normalmente possuem maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho, reduziram ainda mais a participação entre 2009 e 2011, com queda de 59,8% para 49,4% na taxa de participação. A pesquisa revela também que dos 712 mil jovens residentes na RMF, 33,5% só trabalha ou só estuda. Já o percentual de jovens que não trabalha nem estuda é de 21,2% do total. Apenas 11,8% trabalham e estudam simultaneamente.
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Disparidade vem caindo; ganho é 24,9% menor
Erle Mesquita
Coordenador da PED do IDT
De maneira geral o mercado de trabalho da RMF vem reduzindo a disparidade entre as populações mais vulneráveis, como jovens, mulheres e negros. A gente percebe que a diferença tanto na taxa de desemprego como no padrão de rendimento vem caindo, mais ainda existem indicadores desfavoráveis entre a população negra. Eles continuam ganhando 24,9% a menos, têm uma taxa de desemprego meio ponto percentual mais elevada, o que mostra que ainda há uma desigualdade muito grande. Quando analisamos a escolaridade, vemos que a população negra tem um nível mais baixo associada a uma jornada mais extensa. E isso acaba reproduzindo uma diferença e dificultando uma trajetória profissional mais favorável. Tudo isso acaba repercutindo porque quatro em dez jovens têm uma jornada acima da legal. Então quando ele sai de uma jornada intensiva a continuidade do estudo fica ameaçada.
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